HOMENAGEM A SARAMAGO.
“O tempo não é uma corda que se possa medir de nó a nó. O tempo é uma superfície obliqua e ondulante, onde só a memória é capaz de mover e aproximar”.
"Bata em um cão e ele irá ganir, corte uma arvore e ela irá chorar, ofenda um homem, ele irá crescer.”
(Ambos de Evangelho Segundo Jesus Cristo)
"A sociedade, meu querido amigo, tal como a humanidade, é uma abstração (...) O mundo não tem mais problemas que os problemas das pessoas (...)"
(Em "O homem duplicado", diálogo entre o professor de matemática e Tertuliano..)
"Posto diante de todos estes homens reunidos, de todas estas mulheres, de todas estas crianças (sede fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra, assim lhes fora mandado), cujo suor não nascia do trabalho que não tinham, mas da agonia insurportável de não o ter, Deus arrependeu-se dos males que havia feito e permitido, a um ponto tal que, num arrebato de contrição, quis mudar o seu nome para um outro mais humano. Falando à multidão, anunciou:'A partir de hoje chamar-me-ei Justiça.'E a multidão respondeu-lhe: Justiça, já a temos, e não nos atende. E disse Deus: Sendo assim tomarei o nome de Direito. E a multidão tornou a responder-lhe: Direto, já nós temos, e não nos conhece. E Deus: Nesse caso, ficarei com o nome de Caridade, que é um nome bonito. Disse a multidão: Não necessitamos de caridade, o que queremos é uma Justiça que se cumpra e um Direto que nos respeite. Então Deus compreendeu que nunca tivera, verdadeiramente, no mundo que julgaa seu, o lugar de majestade que havia imaginado, que tudo fora, afinal, uma ilusão, que também ele tinha sido vítima de enganos, como aqueles de que se estavam queixando, as mulheres, os homens e as crianças e, humilhado, retirou-se para a eternidade. A penultima imagem que ainda viu foi a de espingardas apontando para a multidão, o penultimo som que ouviu foi dos disparos, mas a última imagem já havia corpos caídos sangrando, e o último som esta cheio de gritos e lágrimas".
"... dormiu cada qual como pôde, com seus próprios e secretos sonhos, pois os sonhos são como as pessoas, acaso parecidos mas nunca iguais."
"... é o que há de mais lindo, nascer com asas e fazê-las crescer, isso mesmo fizemos com nossos sonhos."
- "A consciência moral, que tantos insesatos tem ofendido e muito mais renegado, é coisa que existe e existiu sempre, não foi uma invenção dos filósofos do Quartenario, quando a alma mal passava ainda de um projeto confuso. Com o andar dos tempos, mais as atividades de convivência e as trocas genéticas, acabamos por meter a consciência na cor do sangue e no sal das lágrimas, e, como se tanto fosse pouco, fizemos dos olhos uma espécie de espelhos vidrados para dentro, com o resultado, muitas vezes, de mostrarem eles sem reserva o que estavamos tratando de negar com a boca".
"...deus é tanto mais deus quanto mais inacessível for."
"Não dormiu bem, sonhou com uma nuvem de palavras que fugiam e se dispersavam enquanto ele as ia perseguindo com uma rede de caçar borboletas e lhes rogava Detenham-se, por favor, não se mexam, esperem aí por mim. Então, de repente, as palavras pararam e juntaram-se, amontoaram-se umas sobre as outras como um enxame de abelhas à espera de uma colmeia onde se deixassem cair, e ele, com uma exclamação de alegria, lançou a rede. Tinha apanhado um jornal."
"Essas palavras, que, provavelmente, tal como se apresentam, ninguém as haveria dito antes, essas palavras tiveram a sorte de não se perderem umas das outras, tiveram quem as juntasse, quem sabe se o mundo não seria um pouco mais decente se soubessemos como reunir umas quantas palavras que andam por aí soltas, Duvido que alguma vez as pobres desprezadas venham a encontrar-se, Também eu, mas sonhar é barato, não custa dinheiro"
"Entre o home, com a sua razão, e os animais, com o seu instinto, quem, afinal, estará mais bem dotado para o governo da vida? Se os cães tivessem inventado um deus, brigariam por diferenças de opinião quanto ao nome a dar-lhe, Perdigueiro fosse, ou Lobo-d'Alsácia? E, no caso de estarem de acordo quanto ao apelativo, andariam, gerações após gerações, a morder-se mutuamente por causa da forma das orelhas ou do tufado da cauda do seu canino deus?"
"Invalidez da linguagem não é querer dizer amor e não chegar à língua, é ter língua, e não chegar ao amor."
O Evangelho Segundo Jesus Cristo
O filho de José e de Maria nasceu como os filhos de todos os homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso de suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar e chorará por esse mesmo e único motivo.
"A mais inútil coisa deste mundo é o arrependimento, em geral quem se diz arrependido quer apenas conquistar perdão e esquecimento, no fundo, cada um de nós continua a prezar as suas culpas."
A Caverna
"O mau não é ter uma ilusão, o mau é iludir-se."
É preciso ser-se Deus para gostar tanto de sangue
Segundo aquela lei não escrita que manda acreditar só no que se vê, embora, já se sabe, não vejamos sempre, nós, homens, as mesmas coisas da mesma maneira, o que, aliás, se tem mostrado excelente para a sobrevivência e relativa sanidade mental da espécie." O Evangelho Segundo Jesus Cristo.
A solidão não é viver só, a solidão é não sermos capazes de fazer companhia a alguém ou a alguma coisa que está dentro de nós."
O ANO DA MORTE DE RICARDO REIS
Um deus que se deu ao trabalho de inventar o inferno mão merece o nosso respeito.
"Queria pensar, mas não o balancê do costume, terei feito bem, terei feito mal, o feito feito está, queria era pensar na vida, para que serve, para que servi eu nela, sim, cheguei a uma conclusão e julgo que não há outra, não sei como a vida é..."
do livro: A Jangada de Pedra
"Do chão sabemos que se levantam as searas e as árvores, levantam-se os animais que correm os campos ou voam por cima deles, levantam-se os homens e as suas esperanças."
"...a quem talvez não vejamos mais, ou talvez sim, porque a vida ri-se das previsões e põe palavras onde imaginamos silêncios, e súbitos regressos quando pensámos que não voltaríamos a encontrar-nos."
Saramago, José. A Viagem do Elefante, ed. Schwarcz, pg. 32.
"DEUS NÃO PRECISA DO HOMEM PARA NADA, EXCETO PARA SER DEUS!"
"Enfim, de Deus e da Morte não se têm contado senão histórias, e esta não é mais que uma delas."
"Como será possível acreditar num Deus criador do Universo,
se o mesmo Deus criou a espécie humana?"
Caim - Frases:
"[...] a carne é supinamente fraca, e não tanto por sua culpa, pois o espírito, cujo dever, em princípio, seria levantar uma barreira contra todas as tentações, é sempre o primeiro a ceder, a içar a bandeira branca da rendição.[...]
"[...] É bem possível que o pacto de aliança que alguns afirmam existir entre deus e os homens não contenha mais que dois artigos, a saber, tu serve-nos a nós, vocês servem-me a mim.[...]
"[...]faltam-nos ainda muitas palavras para que comecemos a tentar dizer quem somos e nem sempre daremos com as que melhor o expliquem[...]"
De caim para deus, questionando sua culpa pela morte de abel: "Quem és tu para colocares à prova aquilo que tu mesmo criaste?"
"A Pilar, como se dissesse água"
"A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós o entendemos a ele".
"No fundo, no fundo, tudo é pouco, tudo é insignificante."
"Como tudo, as palavras têm os seus quês, os seus comos e os seus porquês. Algumas, solenes, interpelam-nos com ar pomposo, dando-se importância, como se estivessem destinadas a grandes coisas, e, vai-se ver, não eram mais que uma brisa leve que não conseguiria mover uma vela de moinho, outras, das comuns, das habituais, das de todos os dias, viriam a ter, afinal, consequências que ninguém se atreveria a prever, não tinham nascido para isso, e contudo abalaram o mundo"
"A eva e adão ainda restava a possibilidade de gerarem um filho para compensar a perda do assassinado, mas bem triste há-de ser a gente sem outra finalidade na vida que a de fazer filhos sem saber porquê nem para quê. Para continuar a espécie, dizem aqueles que crêem num objectivo final, numa razão última, embora não tenham nenhuma ideia sobre quais sejam e que nunca se perguntaram em nome de quê terá a espécie de continuar como se fosse ela a única e derradeira esperança do universo."
- "Os pobres tem muita imaginação, disse caim, pode-se até dizer que não tem outra coisa" p.133
- "a continuidade biológica não é tudo, já basta que a mente humana crie e recrie aquilo em que obscuramente acredita" p.156
"O caminho do engano nasce estreito, mas sempre encontrará quem esteja disposto a alargá-lo..."
do Evangelho:
- Ainda as barrigas não crescem e já os filhos brilham nos olhos das mães.
- Os gestos não totalmente sinceros são sempre atrasados.
- Há duas maneiras de perder-se a vida: uma pelo martírio, outra pela renúncia.
- Parece ser condição para a manutenção da pureza do mundo existirem nele animais inocentes, rolas ou cordeiros sejam.
- Deus é tanto mais Deus quanto mais inacessível for.
- O cúmulo da sabedoria é saber separar o falso do verdadeiro.
- O sonho é o pensamento que não foi pensado quando devia.
-À hora da morte se hão de pedir contas ao varão por cada conversa desnecessária que tiver tido com sua mulher (Rabi Josephat bin yohanáu)
- O filho de José e de Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso das suas necessidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar e chorará por esse mesmo e único motivo.
- Milagre, milagre mesmo, por mais que nos digam, não é boa coisa, se é preciso torcer a lógica das coisas para torná-las melhores.
- O diabo não deixa de ser diabo por alguma vez ter falado a verdade.
Percebo agora porque está o Diabo. Se a tua autoridade vier a alargar-se a mais gente e a mais países, também o poder dele sobre os homens se alargará, pois os teus limites são os limites dele. (Jesus a Deus no barco)
- Limitei-me a tomar para mim aquilo que Deus não quis: a carne, com sua alegria e a sua tristeza, a juventude e a velhice, a frescura e a podridão, mas não é verdade que o medo seja uma arma minha,. Não me lembro de ter sido eu quem inventou o pecado e seu castigo e o medo que neles há sempre.
- Não gostaria de me ver na pele de um Deus que ao mesmo tempo guia a mão do punhal assassino e oferece a garganta que vai ser cortada.
- Não te aceito, não te perdôo, quero-te como és e e se possível ainda pior do que és agora. Porque este Bem que eu som não existiria sem esse Mal que tu és. Um bem que tivesse que existir sem ti seria inconcebível, a tal ponto que nem eu posso imaginá-lo enfim, se tu acabas eu acabo. Para que eu seja o Bem é necessário que tu continues a ser o Mal. Se o Diabo não vive como Diabo, Deus não vive como Deus. A morte de um seria a morte do outro.
"Há quem leve a vida inteira a ler sem nunca ter conseguido ir mais além da leitura, ficam pregados à página, não percebem que as palavras são apenas pedras postas a atravessar a corrente de um rio, se estão ali é para que possamos chegar a outra margem, a outra margem é que importa. A não ser que. A não ser, quê. A não ser que esses tais rios não tenham duas margens, mas muitas, que cada pessoa que lê seja, ela, a sua própria margem, e que seja sua, e apenas sua, a margem a que terá que chegar."
A Caverna
Encontrei, outro dia, uma fórmula que me parece boa, é como se durante todo esse tempo eu estivesse descrevendo uma estátua – o rosto, o nariz – e ágora eu me interessasse muito mais pela pedra de que se faz a estátua. Quer dizer, já descrevi a estátua, todo mundo já sabe que estátua é essa que eu estive descrevendo desde Levantado do chão até o Evangelho segundo Jesus Cristo. A partir de Ensaio sobre a cegueira, em Todos os nomes e no próximo romance, [A caverna] se o escrever, trato da pedra... É uma metáfora que há que se entender como tal [...] Mas, no fundo, quer dizer algo mais do que aquilo que à primeira vista parece. [...] Quando olhamos para uma estátua, não estamos a pensar na pedra que está por trás da superfície. Então é como se eu, a partir de Ensaio sobre a cegueira, estivesse a fazer um esforço, para passar para o lado de dentro da pedra. [...] Não penso que estou a escrever livros melhores que antes. Não tem a ver com qualidade, mas com intenção. É como se eu quisesse passar para o lado de dentro da pedra. (SARAMAGO apud FERRAZ, 2003, p. 206
ao nascermos, os dedos ainda não têm cérebros, vão-nos formando pouco a pouco, com o passar do tempo e o auxílio do que os olhos veem. O auxílio dos olhos é importante, tanto quanto o auxílio daquilo que por eles é visto. Por isso o que os dedos sempre souberam fazer de melhor foi precisamente revelar o oculto. O que no cérebro possa ser percebido como conhecimento infuso, mágico, ou sobrenatural, [...] foram os dedos e os pequenos cérebros que lho ensinaram. Para que o cérebro da cabeça soubesse o que era pedra, foi preciso primeiro que os dedos a tocassem, lhe sentissem a aspereza, o peso e a densidade, foi preciso que se ferissem nela. (SARAMAGO, 2000, p. 83)
- Em entrevista ao jornal O Globo, de 26 de julho de 2009, o escritor português e Nobel de Literatura, José Saramago, observou, sobre o twitter, que "Os tais 140 caracteres refletem algo que já conhecíamos: a tendência monossílado como forma de comunicação. De degrau em degrau, vamos descendo até o grunhido".
Se tens um coração de ferro, bom proveito. O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia. "
"Para temperamentos nostálgicos, em geral quebradiços, pouco flexíveis, viver sozinho é um duríssimo castigo"
"O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio."
"Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é so um dia mais."
""Porém, morando o riso tão perto da lágrima, o desafogo tão cerca da ânsia, o alívio tão vizinho do susto nisto se passando a vida das pessoas e das nações...""
" O lógico, o natural, o simplesmente humano seria que abraão tivesse mandado o senhor à merda, mas não foi assim. "
Caim.
O homem nem sonha que, não tendo ainda sequer começado a recrutar os tripulantes, já leva atrás de si a futura encarregada das baldeações e outros asseios, também é deste modo que o destino costuma comportar-se connosco, já está mesmo atrás de nós, já estendeu a mão para tocar-nos o ombro, e nós ainda vamos a murmurar, Acabou-se, não há mais que ver, é tudo igual."
“O medo cega, disse a rapariga dos óculos escuros, São palavras certas, já éramos cegos no momento em que cegámos, o medo nos cegou, o medo nos fará continuar cegos, Quem está a falar, perguntou o médico, Um cego, respondeu a voz, só um cego, é o que temos aqui.”
"Jesus morre, morre, e já vai deixando a vida, quando de súbito o céu por cima da sua cabeça se abre de par em par e Deus aparece, vestido como estivera na barca, e a sua voz ressoa por toda a terra, dizendo, Tu és o meu Filho muito amado, em ti pus toda a minha complacência. Então Jesus compreendeu que viera trazido ao engano como se leva um cordeiro ao sacrifício, que a sua vida fora traçada para morrer assim desde o princípio dos princípios, e, subindo-lhe à lembrança o rio de sangue e de sofrimento que do seu lado irá nascer e alagar toda a terra, clamou para o céu aberto onde Deus sorria, Homens, perdoai-lhe, porque ele não sabe o que fez...."
O espelho e os sonhos são coisas semelhantes, é como a imagem do homem diante de si próprio.
"Deus, o diabo, o bom, o ruim, tudo está na nossa cabeça, não no céu ou no inferno, que também inventamos. Não percebemos que, tendo inventado Deus, imediatamente nos escravizamos a ele."
"No fundo, o problema não é um Deus que não existe, mas a religião que o proclama. Denuncio as religiões, todas as religiões, por nocivas à Humanidade. São palavras duras, mas há que dizê-las."
Que Deus te ponha a virtude, que eu, por mim, fiz o que pude, e não será tanto pela virtude adicional com que Deus, sujeito como qualquer comum mortal a esquecimentos e imprevidências, contribua para a coroação dos esforços cometidos, mas pela consciência humilde de que se não chegamos a fazer o melhor foi simplesmente porque de tal não éramos capazes. Argumentar com o que tem de ser foi sempre uma perda de tempo, para o que tem de ser os argumentos não passam de conjuntos mais ou menos casuais de palavras que esperam receber da ordenação sintática um sentido que elas próprias não estão seguras de possuir"
Um diálogo recente
(...) Tarde, disse caim, Vale mais tarde que nunca, respondeu o anjo com prosápia, como se tivesse acabado de enunciar uma verdade primeira, Enganas-te, nunca não é o contrário de tarde, o contrário de tarde é demasiado tarde, respondeu-lhe caim. O anjo resmungou, Mais um racionalista (...)
(Caim)
"... enquanto houver vida, haverá esperança. Sim, é certo, por mais espessas e negras que estejam as nuvens sobre nossas cabeças, o céu lá por cima estará permanentemente azul, mas a chuva, o granizo e os coriscos é sempre para baixo que vÊm, em verdade não sabe uma pessoa o que pensar quando tem de fazer-se entender com uma ciência dessas"
" Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem,Cegos que, vendo, não vêem"
" Nem a juventude sabe o que pode, nem a velhice pode o que sabe"
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