quarta-feira, março 12, 2014

Mário Quintana

Epílogo Não, o melhor é não falares, não explicares coisa alguma. Tudo agora está suspenso. Nada agüenta mais nada. E sabe Deus o que é que desencadeia as catástrofes, o que é que derruba um castelo de cartas? Não se sabe... Umas vezes passa uma avalanche e não morre uma mosca. Outras vezes senta uma mosca e desaba uma cidade.

TEMPOS DIFICEIS PARA QUEM SONHA...

Eu já fui mulher, já fui menina, já fui tua menina Já fui teu sonho, tua falta de sono Já fui teu braço esperado, teu sonho realizado Eu já fui tua felicidade. Você era meu homem, meu menino, que eu queria aqui, na rua, ou em qualquer lugar eu quis você no sol, na chuva, ou deitado no meu colo Quando estava triste, meu coração quebrava , minha alma doía... e eu, com medo, tentava aceitar que tua alma encontrou, reencontrou a minha assim que nos olhamos pela primeira vez. Eu aceitei que não deveria deixar de acreditar nos meus sonhos bobos. E que era nos seus braços o meu lugar. Você já foi minhas lágrimas, meu frio na barriga, minhas birras, meu momento mais lindo E dentre tanta gente, eu escolhi você para ser meu par você era meu par, e eu era sua... e isso bastou para nós. e era meu coração, e era meu apelo para salvação.' colocamos tantos pontos finais, que virou reticencias. toda vez que você ia embora, levava um pedaço de mim e eu quis diminuir as estradas, eu quis diminuir o tamanho do meu quarto, eu quis ter mais tempo para nós. Porque a gente, um dia, fomos nós. Porque o que sobrou daquilo , daquela saudade imensa, das maos, dos pés, dos sonhos? o que sobrou da gente? em cada conversa, em cada grito, toda vez que você olhou para mim daquele jeito, me cortava ao meio - toda vez que você olhou e mentiu, me despedaçou. Faz quanto tempo que o tempo passou? Você me perguntou porque eu gostava de você ? - Porque são tempos difíceis para os sonhadores. Eu te vi e logo soube que nossa alma já havia pertencido uma à outra. Você foi minha lembrança mais terna, meu coração acelerado, meu peito vazio. hoje somos distancia, silencio e pedaços. Eu ainda sonho. Eu ainda acredito no amor e suas direções. São tempos difíceis para quem pensa, tempos difíceis para quem sonha.

quarta-feira, janeiro 01, 2014

A Vida Oblíqua - C.L.

A Vida Oblíqua Só agora pressenti o oblíquo da vida. Antes só via através de cortes retos e paralelos. Não percebia o sonso traço enviesado. Agora adivinho que a vida é outra. Que viver não é só desenrolar sentimentos grossos — é algo mais sortilégico e mais grácil, sem por isso perder o seu fino vigor animal. Sobre essa vida insolitamente enviesada tenho posto minha pata que pesa, fazendo assim com que a existência feneça no que tem de oblíquo e fortuito e no entanto ao mesmo tempo sutilmente fatal. Compreendi a fatalidade do acaso e não existe nisso contradição. A vida oblíqua é muito íntima. Não digo mais sobre essa intimidade para não ferir o pensar-sentir com palavras secas. Para deixar esse oblíquo na sua independência desenvolta. E conheço também um modo de vida que é suave orgulho, graça de movimentos, frustração leve e contínua, de uma habilidade de esquivança que vem de longo caminho antigo. Como sinal de revolta apenas uma ironia sem peso e excêntrica. Tem um lado da vida que é como no inverno tomar café num terraço dentro da friagem e aconchegada na lã. Conheço um modo de vida que é sombra leve desfraldada ao vento e balançando leve no chão: vida que é sombra flutuante, levitação e sonhos no dia aberto: vivo a riqueza da terra. Sim. A vida é muito oriental. Só algumas pessoas escolhidas pela fatalidade do acaso provaram da liberdade esquiva e delicada da vida. É como saber arrumar flores num jarro: uma sabedoria quase inútil. Essa liberdade fugitiva de vida não deve ser jamais esquecida: deve estar presente como um eflúvio. Viver essa vida é mais um lembrar-se indireto dela do que um viver direto. Parece uma convalescença macia de algo que no entanto poderia ter sido absolutamente terrível. Convalescença de um prazer frígido. Só para os iniciados a vida então se torna fragilmente verdadeira. E está-se no instante-já: come-se a fruta na sua vigência. Será que não sei mais do que estou falando e que tudo me escapou sem eu sentir? Sei sim — mas com muito cuidado porque senão por um triz não sei mais. Alimento-me delicadamente do cotidiano trivial e tomo café no terraço no limiar deste crepúsculo que parece doentio apenas porque é doce e sensível. A vida oblíqua? Bem sei que há um desencontro leve entre as coisas, elas quase se chocam, há desencontro entre os seres que se perdem uns aos outros entre palavras que quase não dizem mais nada. Mas quase nos entendemos nesse leve desencontro, nesse quase que é a única forma de suportar a vida em cheio, pois um encontro brusco face a face com ela nos assustaria, espaventaria os seus delicados fios de teia de aranha. Nós somos de soslaio para não comprometer o que pressentimos de infinitamente outro nessa vida de que te falo. E eu vivo de lado — lugar onde a luz central não me cresta. E falo bem baixo para que os ouvidos sejam obrigados a ficar atentos e a me ouvir. Mas conheço também outra vida ainda. Conheço e quero-a e devoro-a truculentamente. É uma vida de violência mágica. E misteriosa e enfeitiçante. Nela as cobras se enlaçam enquanto as estrelas tremem. Gotas de água pingam na obscuridade fosforescente da gruta. Nesse escuro as flores se entrelaçam em jardim feérico e úmido. E eu sou a feiticeira dessa bacanal muda. Sinto-me derrotada pela minha própria corruptibilidade. E vejo que sou intrinsecamente má. É apenas por pura bondade que sou boa. Derrotada por mim mesma. Que me levo aos caminhos da salamandra, gênio que governa o fogo e nele vive. E dou-me como oferenda aos mortos. Faço encarnações no solstício, espectro de dragão exorcizado. Mas não sei como captar o que acontece já senão vivendo cada coisa que agora e já me ocorra e não importa o quê. Deixo o cavalo livre correr fogoso de pura alegria nobre. Eu, que corro nervosa e só a realidade me delimita. E quando o dia chega ao fim ouço os grilos e torno-me toda cheia e ininteligível. Depois a madrugada vem com seu bojo pleno de milhares de passarinhos barulhando. E cada coisa que me ocorra eu a vivo aqui anotando-a. Pois quero sentir nas minhas mãos perquiridoras o nervo vivo e fremente do hoje.

A Morte que Trazemos no Coração

.A Morte que Trazemos no Coração É no coração que morremos. É aí que a morte habita. Nem sempre nos damos conta que a carregamos connosco, mas, desde que somos vida, ela segue-nos de perto. Enquanto não somos tomados pela nossa, vamos assistindo e sentindo, em ritmo crescente ao longo da vida, às mortes de quem nos é querido. A morte de um amigo é como uma amputação: perdemos uma parte de nós; uma fonte de amor; alguém que dava sentido à nossa existência... porque despertava o amor em nós. Mas não há sabedoria alguma, cultura ou religião, que não parta do princípio de que a realidade é composta por dois mundos: um, a que temos acesso direto e, outro, que não passa pelos sentidos, a ele se chega através do coração. Contudo, o visível e o invisível misturam-se de forma misteriosa, ao ponto de se confundirem e, como alguns chegam a compreender, não serem já dois mundos, mas um só. Só as pessoas que amamos morrem. Só a sua morte é absoluta separação. Os estranhos, com vidas com as quais não nos cruzamos, não morrem, porque, para nós, de facto, não chegam sequer a ser. Só as pessoas que amamos não morrem. O Amor é mais forte do que a morte. O sofrimento que se sente é a prova de uma união que subsiste, agora com uma outra forma, composta apenas de... Amor. Dói, muito. Mas com a ajuda dos que partem acabamos por sentir que, afinal, não fomos separados para sempre... O Amor faz com que a nossa vida continue a ter sentido. A partida dos que foram antes de nós ensina-nos a viver melhor, de forma mais séria, mais profunda, de uma forma, inequivocamente, mais autêntica. Devemos cuidar de todos os que amamos. Aos que partiram, porém, aquilo que lhes podemos dar é o amor àqueles que ficaram cá. Porque estes continuam a precisar de nós, do melhor de nós... e é sempre uma iniquidade quando um amor por quem partiu mata, em alguém, o amor por aqueles que ainda cá estão. A morte ensina-nos que o Amor é perdoar mais do que vingar; consolar mais do que ser consolado; partilhar mais do que acumular; compreender mais do que julgar; dar, darmo-nos, oferecer o melhor de nós, mais do que termos o que sonhámos. Não é difícil compreender que os nossos sentimentos e gestos são determinantes, não só para a nossa felicidade neste mundo, como também para a da outra vida, de que esta faz parte. Repousa em nós, calma e firme, a certeza de que a vida não se mede pela quantidade dos dias... mas pelo amor de que se foi autor e herói. ... chorar a morte de um amigo é a prova de que a sua vida, aqui, teve valor e sentido. É o mesmo amor que nos deu alegria à vida que nos faz, agora, chorar... não desapareceu, está vivo. Habita-nos o coração. Ficam as lágrimas choradas no silêncio do fundo de nós. Fica o silêncio onde se ama. Fica a esperança, que é certeza, de que todo o carinho e ternura que ficaram por dar não se perderam... adiaram-se apenas. Afinal, a mesma morte que leva os que amamos, também nos levará a nós... será pois uma simples questão de tempo até que possamos abraçar e beijar aqueles a quem, agora, disso a morte nos impede. No fundo do nosso coração, bem mais fundo do que a morte em nós, está Deus. A Deus peço a confiança na eternidade do Amor; a Deus peço que ajude os que neste momento sofrem a dor do espinho que a morte crava; a Deus peço que me continue a ensinar e a ajudar a Amar com todas as forças de que sou capaz. A-Deus. José Luís Nunes Martins, in 'Filosofias - 79 Reflexões'

Zygmunt Bauman

"O que aprendemos com a amarga experiência é que essa situação de ter sido abandonado à própria sorte, sem ter com quem contar quando necessário, quem nos console e nos dê a mão, é terrível e assustadora, mas nunca se está mais só e abandonado do que quando se luta para ter a certeza de que agora existe de fato alguém com quem se pode contar, amanhã e depois, para fazer tudo isso se - quando - a roda da fortuna começar a girar em outra direção."

sexta-feira, julho 26, 2013

A vida pesa. Para aqueles que pensam, pesa mais, para os que sentem, o dobro. Muitas vezes a única solução para isso tudo é o silêncio. A noite dissolve os homens e o silêncio deita ao lado.

segunda-feira, abril 22, 2013

C. BUKOWSKI

Lendo Bukowski, velho bêbado e totalmente lúcido....e minha mania de guardar trechos.

"De algum modo, sentia que estava ficando meio maluco. Mas sempre me sentia assim. De qualquer forma, a insanidade é relativa. Quem estabelece a norma?"

"Raramente encontro uma pessoa rara ou interessante. É mais que perturbador, é um choque constante."

"O problema com o mundo é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, enquanto os estúpidos estão cheios de confiança."

"Bem, todos morrem um dia, é simples matemática. Nada de novo. A espera é que é um problema."

"Não há nada que ensine mais do que se reorganizar depois do fracasso e seguir em frente."

"Os grandes homens são sempre os mais solitários."

"A maior parte do mundo estava doida. E a parte que não era doida era furiosa. E a parte que não era doida nem furiosa era apenas idiota."

"As pessoas eram limitadas e cuidadosas, todas iguais. E eu teria que viver com esses putos pelo resto de minha vida, pensava."

"Nós nascemos assim, nisso: Nos hospitais que são tão caros, que são baratos para morrer; num país onde as cadeias estão cheias e os hospícios estão fechados; num lugar onde as massas elevam idiotas em heróis ricos."

quinta-feira, março 14, 2013

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Alguém entra na sua vida, rouba seu tempo, destrói sua confiança, agride sua auto-estima, estilhaça o pouco que resta da sua esperança no amor. E sai ileso. Não adianta desperdiçar sofrimento por quem não merece. É como escrever poemas no papel higiênico e limpar o cu com os sentimentos mais nobres.

como nos primeiros tempos...

"O céu muito escuro: naquela noite, não haveria estrelas cadentes. Passou as mãos pelos braços. Não conseguia aterrorizar-se , e há muito tempo não sentia frio. Fizera seu aprendizado de solidão enquanto as coisas sentidas a cada dia tornavam-se mais e mais semelhantes, para finalmente permanecerem numa massa informe a escorrer monótona por dentro dele, alterando-se apenas em insignificantes cintilações cotidianas. Apenas reagia. Tudo ali estaria para sempre excessivamente silencioso para que se pudesse soltar um grito ou chorar sozinho no escuro , como nos primeiros tempos. "

terça-feira, fevereiro 12, 2013

DE SARAMAGO


Uma pitada de poesia é suficiente para perfumar um século inteiro. José Saramago (via eles-e-eu)



A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:
“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.
 José Saramago

"Às vezes é preciso dormir, dormir muito. Não pra fugir, mas pra descansar a alma dos sentimentos. Quem nasceu com a sensibilidade exacerbada sabe quão difícil é engolir a vida. Porque tudo, absolutamente tudo devora a gente. Inteira."
Marla de queiroz

domingo, outubro 28, 2012

anos,

Todos os anos se passam e continuo jogando minha alma pela janela na esperança de que em algum momento ela consiga se libertar.
Os enganos, erros, assombros estão todos guardados a sete chaves e no fim do dia, deitam ao lado do meu travesseiro . Não me deixam esquecer , um dia sequer, que essas coisas bonitas, leves não são para meu bico e que sonhar com isso, só faz com que pese a cada dia mais o coração.
Então, ajoelho e aceito, como quem não pode mudar, esse destino, essa dor que quer gritar, mas de cabeça baixa, silencia.
Aceito que da vida, me restou pensar e levar. Um dia após o outro. Sem muita fé, esperança e essas outras coisas que fazem as pessoas lutar e insistir pelo resto de suas vidas.
Eu tenho um nó na garganta e uma dor no peito que se calam, e esperam , que um dia isso tudo acabe.
Não, nenhuma alma outra te dará a mão- essas gritam. E não tem divindade que possa te salvar da sua mente, menina.
Engole logo essas pílulas e dorme com os anjos.