terça-feira, outubro 31, 2006

Uma praiazinha . . .

"Agora olhei pela janela. A janela do meu quarto dá para os fundos de outro edifício, fica sempre um ar cinzento preso naquele espaço...
Quando pensei desse jeito, nesta cidade daqui, ...você nem sabe como me dá uma vontade doida, doida de voltar. Mas não vou voltar. Mais do que ninguém, você sabe perfeitamente que eu nunca mais posso voltar. Pensei nisso com tanta força que cheguei a ficar meio tonto, a mão escorregou e fez esse borrão aí do lado, desculpe. Eu apertei as duas mãos contra a folha de papel, como se quisesse me segurar nela. Como se não houvesse nada embaixo dos meus pés.
Você não sabe, mas acontece assim quando você sai de uma cidadezinha que já deixou de ser sua e vai morar noutra cidade, que ainda não começou a ser sua.Voce sempre fica meio tonto quando pensa que não quer ficar, e que também não quer - ou não pode - voltar. Você fica igualzinho a um daqueles caras de circo que andam no arame e de repente o arame plac! ó, arrebenta, daí você fica lá, suspenso no ar, o vazio embaixo dos pés. Sem nenhum lugar no mundo, dá para entender ?
Ando tão só...tão triste que às vezes me jogo na cama, meto a cara fundo no travesseiro e tento chorar.Claro que não consigo.Solto uns arquejos, roncos, soluços, barulhos de bicho, uns grunhidos de porco ferido de faca no coração. Sempre lembro de você nessas horas. Hoje, preferi te escrever.
E se você ainda consegue lembrar daqueles banhos...porque eu, eu não esqueço um segundo neste sete anos - mais do que ninguém, você sabe como isso é verdade."

(Uma Praiazinha de Areia...-in Os Dragões Não Conhecem o Paraíso)

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Clarice, Caio. Mais um, mais outro.
Vim dizer que amei isso aqui.

5:19 PM

 

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