segunda-feira, outubro 30, 2006

mas clarice . . .

"...estou procurando, estou procurando. Estou tentando me entender. Tentando dar a alguém o que vivi e não sei a quem, mas não quero ficar com o que vivi. Não sei o que fazer do que vivi, tenho medo dessa desorganização profunda." C.L.

"Mas é que a verdade nunca me fez sentido. A verdade não me faz sentido! É por isso que eu a temia e a temo. Desamparada, eu te entrego tudo - para que faças disso uma coisa alegre. Por te falar eu te assustarei? Mas se eu nunca falar eu me perderei, e por me perder eu te perderia." C.L.

"Ela acreditava em anjo e, porque acreditava, eles existiam." (A Hora da Estrela)

A vida me fez de vez em quando pertencer, como se fosse para me dar a medida do que eu perco não pertencendo. E então eu soube: pertencer é viver. Experimentei-o com a sede de quem está no deserto e bebe sôfrego os últimos goles de água de um cantil. E depois a sede volta e é no deserto mesmo que caminho.
(descoberta do mundo)

É melhor eu não falar em felicidade ou infelicidade - provoca aquela saudade demasiada e lilás, aquele pergume de violeta, as águas geladas da maré mandsa em espumas de areia. Eu não quero provocar porque dói. (A dor do escritor, a do narrador, a do leitor, a do homem enfim. A dor da condição de existir e escrever.)

"... passava o resto do dia representando com obediência o papel de ser"

"E nem entendo aquilo que entendo: pois estou infinitamente maior que eu mesma, e não me alcanço."

" de repente, com olhos de criança assustada, descubro que esse mundo é um mundo cão".

Amar será dar de presente ao outro a própria solidão?"

"E considerou a cruel necessidade de amar. Considerou a malignidade do nosso desejo de ser feliz. Considerou a ferocidade com que queremos brincar. E o número de vezes em que mataremos por amor".

"(...) Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar.
Faça com que eu saiba ficar com o nada
e mesmo assim me sentir
como se estivesse plena de tudo.
Receba em teus braços
o meu pecado de pensar."

"Simplesmente eu sou eu. E você é você. É vasto, vai durar.
(...)
O que te escrevo continua e estou enfeitiçada."

"Mas nem sempre é necessário tornar-se forte. Temos que respeitar a nossa fraqueza. Então, são lágrimas suaves, de uma tristeza legítima à qual temos direito. Elas correm devagar e quando passam pelos lábios sente-se aquele gosto salgado, límpido, produto de nossa dor mais profunda."

"Justamente sempre acontecia uma pequena coisa que a desviava da torrente principal. Era tão vulnerável. Odiava-se por isso? Não, odiar-se-ia mais se já fosse um tronco imutável até a morte, apenas capaz de dar frutos mas não de crescer dentro de si mesma. Desejava ainda mais: renascer sempre, cortar tudo o que aprendera, o que vira, e inaugurar-se num terreno novo onde todo pequeno ato tivesse um significado, onde o ar fosse respirado como da primeira vez."

"Tudo o que em mim não prestava era o meu tesouro."

"A humanidade lhe era como uma morte eterna que no entanto não tinha o alívio de enfim morrer."

“Eu sei qual é o segredo da esfinge. Ela não me devorou porque respondi certo à resposta. Mas eu sou um enigma para a esfinge e no entanto não a devorei. Decifra-me, disse eu à esfinge. E esta ficou muda. As pirâmides são eternas. Vão ser sempre restauradas. A alma humana é coisa? É eterna? Entre as marteladas eu ouço o silêncio.”

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