terça-feira, junho 22, 2010

ALBERT CAMUS

'tratava-se, repare bem, de algo bem diferente da certeza em que eu vivia de ser mais inteligente do que todo mundo. tal certeza, aliás, é sem conseqüência, pelo fato de ser compartilhada por tantos imbecis. não, à força de ser cumulado, eu me sentia, hesito em confessá-lo, um eleito. eleito pessoalmente, entre todos, para este longo e constante êxito. nisto estava, em suma, um efeito da minha modéstia. negava-me a atribuir este êxito unicamente aos meus méritos e não conseguia acreditar que a reunião, numa só pessoa, de qualidades tão diferentes e tão opostas fosse apenas resultado de mero acaso. eis por que, vivendo feliz, eu me sentia, de certa forma, autorizado a gozar esta felicidade por algum decreto superior.'

a queda - p.25

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