É que não quero ser platônica em relação a mim mesma.
Sou profundamente derrotada pelo mundo em que vivo.
Separei-me só pro uns tempos por causa de minha derrota e por sentir que os outros também eram derrotados.
Então fechei-me numa individualização que se eu não tomasse cuidado poderia me transformar em solidão histérica ou complativa.
O que me salvou sempre foram meus alunos, as crianças.
(Clarice Lispector)
Mas para a sua alegria inesperada, percebeu que o amaria sempre.
(Clarice Lispector)
Sem olhar ao espelho,
era um sorriso
que tinha a idiotice dos anjos.
Sou um dos que crêem no inacreditavel.
Aprendi a viver com o que não se entende.
E há um ponto em que
o desespero é uma luz
e um amor.
Ana sempre tivera necessidade
de sentir a raiz firme das coisas...
Por caminhos tortos, viera a cair
num destino de mulher, com a
surpresa de nele caber como
se o tivesse inventado.
Se o mundo não fosse humano
eu me arranjaria sendo um bicho.
Por um instante então desprezo
o lado humano da vida e experimento
a silenciosa alma da vida animal.
É bom, é verdadeiro, ela é a semente
do que depois se torna humano.
" Quero o material das coisas. A humanidade está ensopada de humanização, como se fosse preciso; e essa falsa humanização impede o homem e impede a sua humanidade. Existe uma coisa que é mais ampla, mais surda, mais funda, menos boa, menos ruim, menos bonita. Embora também essa coisa corra o perigo de, em nossas mãos grossas, vir a se transformar em "pureza", nossas mãos que são grossas e cheias de palavras." ( A paixão segundo G.H.)
Das Vantagens de Ser Bobo - Clarice Lispector
O bobo, por não se ocupar com ambições, tem tempo para ver, ouvir e tocar o mundo. O bobo é capaz de ficar sentado quase sem se mexer por duas horas. Se perguntado por que não faz alguma coisa, responde: "Estou fazendo. Estou pensando."
Ser bobo às vezes oferece um mundo de saída porque os espertos só se lembram de sair por meio da esperteza, e o bobo tem originalidade, espontaneamente lhe vem a idéia.
O bobo tem oportunidade de ver coisas que os espertos não vêem. Os espertos estão sempre tão atentos às espertezas alheias que se descontraem diante dos bobos, e estes os vêem como simples pessoas humanas. O bobo ganha utilidade e sabedoria para viver. O bobo nunca parece ter tido vez. No entanto, muitas vezes, o bobo é um Dostoievski.
Há desvantagem, obviamente. Uma boba, por exemplo, confiou na palavra de um desconhecido para a compra de um ar refrigerado de segunda mão: ele disse que o aparelho era novo, praticamente sem uso porque se mudara para a Gávea onde é fresco. Vai a boba e compra o aparelho sem vê-lo sequer. Resultado: não funciona. Chamado um técnico, a opinião deste era de que o aparelho estava tão estragado que o conserto seria caríssimo: mais valia comprar outro. Mas, em contrapartida, a vantagem de ser bobo é ter boa-fé, não desconfiar, e portanto estar tranqüilo. Enquanto o esperto não dorme à noite com medo de ser ludibriado. O esperto vence com úlcera no estômago. O bobo não percebe que venceu.
Aviso: não confundir bobos com burros. Desvantagem: pode receber uma punhalada de quem menos espera. É uma das tristezas que o bobo não prevê. César terminou dizendo a célebre frase: "Até tu, Brutus?"
Eu estava agora tão maior que já não
me via mais. Tão grande como uma
paisagem ao longe. Eu era ao longe.
Mais perceptível nas minhas mais
últimas montanhas e nos meus mais
remotos rios.
Suponho alguem no mundo ja ter visto Deus.
Mas,se nenhum outro viu,
é inutil dizer.
Faz de conta que uma veia não se abrira
e faz de conta que que dela não estava
em silêncio alvíssimo escorrendo sangue
escarlate, e que ela não estivesse pálida
de morte mas isso fazia de conta que
estava mesmo de verdade, precisava no
meio do faz de conta falar a verdade de
pedra opaca para que contrastasse com
o faz de conta verde-cintilante, faz de conta
que amava e era amada, faz de conta que
não precisava de morrer de saudade,
faz de conta que estava deitada na palma
transparente da mão de Deus...
-
Faz de conta que ela não ficava de braços caídos de perplexidade quando os fios de ouro que fiava se embaraçavam e ela não sabia desfazer o fino fio frio, faz de conta que era sábia bastante para desfazer os nós de corda de marinheiro que lhe atavam os pulsos, faz de conta que tinha um cesto de pérolas só para olhar a cor da lua pois ela era lunar, faz de conta que ela fechasse os olhos e os seres amados surgissem quando abrisse os olhos úmidos de gratidão, faz de conta que se descontraía o peito e a luz douradíssima e leve a guiava por uma floresta de açudes mudos e de tranqüilas mortalidades, faz de conta que ela não era lunar, faz de conta que ela não estava chorando por dentro...
-
“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”
"As árvores estavam carregadas, o mundo era tão rico que apodrecia. Quando Ana pensou que havia crianças e homens grandes com fome, a náusea subiu-lhe à garganta, como se ela estivesse grávida e abandonada. A moral do Jardim era outra. Agora que o cego a guiara até ele, estremecia nos primeiros passos de um mundo faiscante, sombrio, onde vitórias-régias boiavam monstruosas. As pequenas flores espalhadas na relva não lhe pareciam amarelas ou rosadas, mas cor de mau ouro e escarlates. A decomposição era profunda, perfumada... Mas todas as pesadas coisas, ela via com a cabeça rodeada por um enxame de insetos enviados pela vida mais fina do mundo. A brisa se insinuava entre as flores. Ana mais adivinhava que sentia o seu cheiro adocicado... O Jardim era tão bonito que ela teve medo do Inferno."
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Abriu a porta de casa. A sala era grande, quadrada, as maçanetas brilhavam limpas, os vidros da janela brilhavam, a lâmpada brilhava - que nova terra era essa? E por um instante a vida sadia que levara até agora pareceu-lhe um modo moralmente louco de viver.
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Oh Deus, eu que faço concorrência a mim mesma. Me detesto. Felizmente os outros gostam de mim. É uma tranqüilidade.
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Faça com que a solidão não me destrua.Faça com que minha solidão me sirva de companhia. Faça com que eu tenha a coragem de me enfrentar. Faça com que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo.Receba em teus braços o meu pecado de pensar.
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Eu não tenho enredo de vida?sou inopinadamente fragmentária.Sou aos poucos. Minha história é viver.E não tenho medo do fracasso.Que o fracasso me aniquile,quero a glória de cair.
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Os fatos são sonoros. O que importa são os silêncios por trás deles.
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Não é saudade... Eu tenho agora minha infância mais do que quando ela decorria.
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Atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia.
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O coração batendo de solidão.
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despersonalização como a destituição do individual inútil - a perda de tudo o que se possa perder e, ainda assim, ser.
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Amor: eu vos amo tanto. Eu amo o amor.O amor é vermelho. O ciúme é verde. Meus olhos são verdes. Mas são verdes tão escuros que na fotografia saem negros. Meu segredo é ter os olhos verdes e ninguém saber. À extremidade de mim estou eu. Eu,implorante, eu a que necessita, a que pede, a que chora, a que se lamenta. Mas a que canta. A que diz palavras. Palavras ao vento? que importa, os ventos as trazem de novo e eu as possuo. Eu à beira do vento. O morro dos ventos uivantes me chama.
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"Com uma amiga chegamos a um tal ponto de simplicidade ou liberdade que ás vezes eu telefono e ela responde: não estou com vontade de falar. Então digo até logo e vou fazer outra coisa."
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"Se meu mundo não fosse humano, também haveria lugar para mim: eu seria uma mancha difusa de instintos, doçuras e ferocidades, uma trêmula irradiação de paz e luta: se o mundo não fosse humano eu me arranjaria sendo um bicho. Por um instante então desprezo o lado humano da vida e experimento a silenciosa alma da vida animal. É bom, é verdadeiro, ela é a semente do que depois se torna humano".
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Em torno dele soprava o vazio em que um homem se encontra quando vai criar. Desolado, ele provocara a grande solidão. [...] E como um velho que não aprendeu a ler ele mediu a distância que o separava da palavra.
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"Uma vez ele fez uma coisa inesperada. E eu bem merecia. Fui fazer carinho nele, ele rosnou. E cometi o erro de insistir. Ele deu um pulo que veio de suas profundezas selvagens de lobo e mordeu-me a boca. Assustei-me, tive que ir ao pronto-socorro onde deram-me dezesseis pontos. Disseram-me que desse Ulisses para alguém pois ele representava um perigo. Mas acontece que, depois do acidente, uni-me mais ainda a ele. Talvez porque eu sofri por ele. O sofrimento por um ser aprofunda o coração dentro do coração"
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O amor é tão mais fatal do que eu havia pensado, o amor é tão inerente quanto a própria carência, e nós somos garantidos por uma necessidade que se renovarácontinuamente. O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe da graça - que se chama paixão.
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O homem parecia ter desapontadamente perdido o sentido do que queria anotar. E hesitava, mordia a ponta do lápis como um lavrador embaraçado por ter que transformar o crescimento do trigo em algarismos. De novo revirou o lápis, duvidava e de novo duvidava, com um respeito inesperado pela palavra escrita. Parecia-lhe que aquilo que lançasse no papel ficaria definitivo, ele não teve o desplante de rabiscar a primeira palavra. Tinha a impressão defensiva de que, mal escrevesse a primeria, e seria tarde demais. Tão desleal era a potência da mais simples palavra sobre o mais vasto dos pensamentos. Na realidade o pensamento daquele homem era apenas vasto, o que não o tornava muito utilizável. No entanto parece que ele sentia uma curiosa repulsa em concretizá-lo, e até um pouco ofendido como se lhe fizessem proposta dúbia.
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Timidamente eu me deixava transpassar por uma doçura que me encabulava sem me constranger.
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Mas chegará o instante em que me darás a mão, não mais por solidão, mas como eu agora: por amor.
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É mentira dizer que a gente não pode ser ajudada. Sou ajudada pela mera presença de uma pessoa vivendo. Sou ajudada pela saudade mansa e dolorida de quem eu amei. E sou ajudada pela minha própria respiração. E há momentos de riso ou de sorriso. De alegria, a mais alta.
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Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade. A felicidade sempre iria ser clandestina para mim. Parece que eu já pressentia. Como devorei! Eu vivia no ar... Havia pudor e orgulho em mim. Eu era uma rainha delicada.
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É uma delicadeza de vida que inclusiveexige a maior coragem para aceitá-la.
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Todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que ouro - existe a quem falte o delicado essencial.
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Ela continuou sem força nos seus braços (marido). Hoje de tarde alguma coisa tranqüila se rebentara, e na casa toda havia um tom humorístico, triste. É hora de dormir, disse ele, é tarde. Num gesto que não era seu, mas que pareceu natural, segurou a mão da mulher, levando-a consigo sem olhar para trás, afastando-a do perigo de viver.Acabara-se a vertigem de bondade.E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no coração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia.
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A verdade então descoberta era tão verdade que não podia subsistir senão no seu recipiente, no próprio fato que a provocara. Tão verdadeira, tão fatal, que vive apenas de sua matriz. Uma vez terminado o momento de vida, a verdade também se esgota.
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Sua vida era formada de pequenas vidas completas, de círculos inteiros, fechados, que se isolavam dos outros.
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Eu arranco as coisas de mim aos pedaços como o arpão fisga a baleia e lhe estraçalha a carne.
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Viver tem dessas coisas: de vez em quando se fica a zero. E tudo isso é por enquanto. Enquanto se vive.
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A harmonia secreta da desarmonia. Quero não o que está feito mas o que tortuosamente ainda se faz."
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"Sou uma filha da natureza: quero pegar, sentir, tocar, ser. E tudo isso já faz parte de um todo, de um mistério. Sou uma só... Sou um ser. E deixo que você seja. Isso lhe assusta? Creio que sim. Mas vale a pena. Mesmo que doa. Dói só no começo."
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Tenho que falar pois falar salva.Mas não tenho uma só palavra a dizer.
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Vi a Esfinge. Não a decifrei. Mas ela tambémnão me decifrou. Encaramo-nos de igual para igual.Ela me aceitou, eu a aceitei. Cada uma com o seu mistério.
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“Saber desistir. Abandonar ou não abandonar- essa é muitas vezes a questão para um jogador. A arte de abandonar não é ensinada à alguém...Serei capaz de abandonar nobremente?”
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" No amor felizmente a riqueza estána doação mútua. O que não significaque não haja luta: é preciso se doar o direito de receber amor. Mas lutaré bom. Há dificuldades que só porserem dificuldades já esquentam onosso sangue, que este felizmentepode ser doado."
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[" Escolher a própria máscara éo primeiro gesto voluntário humano.E solitário. "
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É um silêncio que não dorme: é insone:imóvel mas insone; e sem fantasmas. É terrível - sem nenhum fantasma. Inútil querer povoá-lo com a possibilidade de uma porta que se abra rangendo, de uma cortina que se abra e diga alguma coisa. Ele é vazio e sem promessa. Se ao menos houvesse o vento. Vento é ira, ira é a vida. Ou neve. Que é muda mas deixa rastro - tudo embranquece [...] Há uma continuidade que é a vida. Mas este silêncio não deixa provas. Não se pode falar do silêncio como se fala da neve. Não se pode dizer a ninguém como se diria da neve: sentiu o silêncio desta noite? Quem ouviu não diz.
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Só poderia haver um encontro de seus mistérios se um se entregasse ao outro: a entrega de dois mundos incognoscíveis feita com a confiança com que se entregariamduas compreensões .
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“A minha vida, a mais verdadeira, é irreconhecível, extremamente interior e não tem uma só palavra que a signifique”.
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“Só se ama (só nos apaixona, só nos gratifica plenamente) o que assusta. Só o medo leva os passos da vontade em direção ao perigo e ao prazer de viver. Querer é temer, viver é enfrentar o perigo”.
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Sempre me restará amar. Escrever é alguma coisa extremamente forte mas que pode me trair e me abandonar: posso um dia sentir que já escrevi o que é meu lote neste mundo e que eu devo aprender também a parar. Em escrever eu não tenho nenhuma garantia. Ao passo que amar eu posso até a hora de morrer. Amar não acaba. É como se o mundo estivesse a minha espera. E eu vou ao encontro do que me espera.
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Deve-se deixar inundar pela alegria aos poucos - pois é a vida nascendo. E quem não tiver força, que antes cubra cada nervo com uma película protetora, com uma película de morte para poder tolerar a vida.
Clarice LispectorIn:"A descoberta do mundo"
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A coerência, não a quero mais.Coerência é mutilação. Quero adesordem. Só adivinho atravésde uma veemente incoerência.
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A pungência de se ser explendor,miséria e morte. A humilhaçãoe a podridão perdoadas porquefazem parte da carne fatal do homeme de seu modo errado na terra [...]É a minha dívida de alegria aomundo que nõ me é fácil.
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Mas se não compreendo o que escrevo a culpa não é minha. Tenho que falar pois falar salva. Mas não tenho uma só palavra a dizer. As palavras já ditas me amordaçaram a boca. O que é que uma pessoa diz à outra?
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O monstro sagrado morreu: em seu lugar nasceu uma menina que era sozinha.
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O amar os outros" é tão vasto que inclui até o perdão para mim mesma com o que sobra [...] Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida . Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.
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"Às vezes me enjoo de gente. Depois passa e fico de novo toda curiosa e atenta. E é só."
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A honestidade é muitas vezes uma dor."esboço para um possivel retrato"
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Se uma pessoa perguntar durante meia hora a palavra 'eu', essa pessoa se esquece quem é. Outras podem enlouquecer. É mais seguro não fazer jamais perguntas - porque nunca se atinge o âmago de uma resposta. E porque a resposta traz em si outra pergunta. O que é que eu sou?"
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"Toda compreensão súbita se parece muito com uma aguda imcompreensão"
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Minhas mortes não são por tristeza - são um dos modos do mundo inspirar e expirar a sucessão de suas vidas, é a respiração da espera infinita, e eu mesma, que também sou o mundo, preciso do ritmo de minhas agonias. Mas se eu, como o mundo concordo com minha morte, eu, como outra coisa que extremamente também sou, preciso que as mãos da misericórdia recebam o corpo morto.
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Mas há um momento em que todo corpo descansado se ergue o espírito atento, e da Terra e da Lua. Então ele, o silêncio, aparece.E o coração bate ao reconhê-lo: pois ele é o de dentro da gente.
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Existir é tao completamente fora do comum que se a consciência de existir demorasse mais de alguns segundos nós enlouqueceríamos. A solução para esse absurdo que se chama "eu existo", a solução é amar um outro ser que, este, nós compreendemos que exista.
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Eu não abro a janela, nem fecho a porta, eu só atravesso porque não tem jeito, ou se é o que é, ou não é, mas eu existo, e sou."
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Com o passar do tempo ela ia se tornando mais habituada, comose aos poucos estivesse se habituando à Terra, à Lua, ao Sol e,estranhamente, a Marte sobretudo. Estava numa espécie de plataformade onde por átimos de segundos parecia ver a super-realidade do que éverdadeiramente real. Mais real do que a realidade.
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Será que a pessoa que mais vê, portanto a mais potente, éa que mais sente e sofre? É a que mais se estraçalha com dorestão reais quanto um cisco no olho? Fiquei pensativa.
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A hora da sobrevivência é aquela em que a crueldade de quemé a vítima é permitida, a crueldade e a revolta. E não compreenderos outros é que é certo.
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Mas se eu esperar compreender para aceitar as coisas — nunca o ato de entrega se fará. Tenho que dar o mergulho de uma só vez, mergulho que abrange a compreensão e sobretudo a incompreensão. E quem sou eu para ousar pensar? Devo é entregar-me. Como se faz? Sei porém que só andando é que se sabe andar e — milagre — se anda.
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Nesse instante tenho que escolher entre amar ou ter odio. SEi que amar é mais lento, e a urgencia me consome. Cobre minha furia com o Teu amou ja que também sei que minha ira é apenas não amar, minha ira é arcar com a intoleravel responsabilidade de não ser uma erva. Sou uma erva que se sente onipotentee se assusta. Tira a de mim a falsa onipotência destruidora, não deixa que a ferida que abriram em mim signifique ferida aberta por Ti, faz com que nesse instante de escolha eu entenda que aquele que fere está no mesmo pecado que eu : no orgulho que leva à ira, e portanto ele fere assim como estou querendo ferir só porque não acredita, só porque nao confia, só porque sente um rei espoliado; ajuda aos que sofrem de ira porque elas estão apenas precisando se entregar a Ti.(CL)
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Fazíamos parte da grande espera que por si mesma, é o que o universo inteiro faz. (CL)
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"eu olhava pra ele, era o homem mais lindo q já vi, mas não queria ele pra mim, assim como não quero nem a lua nem as estrelas..."
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A força da destruição ainda se contém um instante em mim. Não posso destruir ninguém ou nada, pois a piedade me é tão forte como a ira; então eu quero destruir a mim, que sou fonte dessa paixão. Não quero pedir a Deus que me aplaque, amo tanto a Deus que tenho medo de tocar nele com meu pedido, meu pedido queima, minha própria prece é perigosa de tão ardente, e poderia destruir em mim a imagem de Deus, que ainda quero salvar em mim.
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A vida inteira tomara cuidado em não ser grande dentro de si para não ter dor.
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Que felicidade podermos encontrar um dia num coração que pulse junto ao nosso, irmanados nas doçuras e agruras da vida de um coração amigo que nos conforte, uma alma pura que nos adore e leve ao céu doce balada de amor.
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Em mim é profunda a vida. As madrugadas vêm me encontrar pálida de ter vivido a noite dos sonhos fundos. Embora às vezes eu sobrenade num raso aparente que tem debaixo de si uma profundidade de azul-escuro quase negro. Por isto te escrevo. Por sopro das grossas algas e no tenro nascente do amor.
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“Eu que jamais me habituarei a mim, queria que o mundo não me escandalizasse.”“O que eu sinto eu não ajo, o que ajo, não penso. O que penso, não sinto. Do que sei, sou ignorante. Do que sinto não ignoro. Não me entendo e ajo como se me entendesse.”
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"estava presa a ele porque queria ser desejada, sobretudo gostava de serdesejada meio selvagemente quando ele bebia demais."
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"Mas era tarde: ela já ansiava por novos êxtases de alegria ou de dor."
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Intimamente fora ela ainda quem ousara levar-se além do que poderia, novamente fora ela quem criara o momento da dor, temia-se surpreendida pela fraqueza com que se conduzia a viver...
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