segunda-feira, abril 02, 2007

mais trechos de caio

"Abraçou-o também, que vinha de muito longe, que mal se conheciam, um bicho arisco, abraçou-o com muita força, como se quisesse entrar dentro dele para poder compreendê-lo mais, e melhor."

[Pela noite]
"Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços."

"Tão longe ficou o tempo, esse, e pensarás no tempo, naquele, e sentirás uma vontade absurda de tomar atitudes como voltar para a casa de teus avós ou teus pais ou tomar um trem para um lugar desconhecido ou telefonar para um número qualquer (e contar, contar, contar) ou escrever um carta tão desesperada mas tão desesperada que alguém se compadeça de ti e corra a te socorrer com chás e bolos, ajeitando as cobertas à tua volta e limpando o suor frio de tua testa."



[Metâmeros]
"É fácil morrer. A toda hora, em todos os lugares, a morte está se oferecendo. Mais difícil é continuar vivendo. Eu continuo. Não sei se gosto, mas tenho uma curiosidade imensa pelo que vai me acontecer, pelas pessoas que vou conhecer, por tudo que vou dizer e fazer e ainda não sei o que será."

"As palavras traem o que a gente sente."

"Há pessoas que nascem para serem sós a vida inteira. Eu, por exemplo. (...) Freqüentemente me assusto, pensando que a vida vai acabar sem que eu encontre um grande amor ou uma grande amizade, ou mesmo uma grande vocação que justifique esse isolamento."

[Limite branco]

"É fácil morrer. A toda hora, em todos os lugares, a morte está se oferecendo. Mais difícil é continuar vivendo. Eu continuo. Não sei se gosto, mas tenho uma curiosidade imensa pelo que vai me acontecer, pelas pessoas que vou conhecer, por tudo que vou dizer e fazer e ainda não sei o que será."

"As palavras traem o que a gente sente."

"Há pessoas que nascem para serem sós a vida inteira. Eu, por exemplo. (...) Freqüentemente me assusto, pensando que a vida vai acabar sem que eu encontre um grande amor ou uma grande amizade, ou mesmo uma grande vocação que justifique esse isolamento."

[Limite branco]


"Ah, era a vontade de magoar a si mesmo, ele, que magoava tanto os outros.
Era a vontade de destruir-se para provar que se pertencia, que aquela caixa
Com dois braços e duas pernas era o seu corpo e ele poderia fazer o que bem entendesse.
Mas provar a quem? E para quê?"

"Não estava triste. Era como se, de repente, tivesse constadado que vivia,
E que aquilo nada mais era do que um capítulo de sua vida.
Encerrado."

"Ás vezes, relendo as coisas que eu mesmo escrevo, tenho a impressão que nasceram de um outro Maurício.
Um Maurício muito velho, desiludido e amargo. Levanto, vou até o espelho, investigo meu rosto. Ele não tem rugas, nem sulcos, nem mesmo a sombra de uma tristeza muito funda. É um rosto de animal jovem; um rosto de dezenovo anos, que ainda não viu nada, que ainda não sentiu nada e, principalmente, que ainda não sabe nada. Mas por detrás dele eu sinto o outro, O outro que um dia vai vir à tona, talvez sem sequer anunciar a própria chegada. Ah, nesse dia eu levantarei bem cedo, e olhando meus traços refletidos neste mesmo vidro, descobrirei, no fundo dos olhos amassados pelo sono, uma luz nova; descobrirei como que uma aura em torno dos cabelos despenteados e dps dentes ainda não escovados. 'Chegou', pensarei. E tudo será diferente. Ou não?"
*Sei q fico grande, mas deu dó cortar no meio...

Todos os trechos, tirados do livro Limite Branco,1970.


"Fico me perdendo em páginas de diários, em pensamentos e temores, e o tempo vai passando. Covardia é uma palavra feia. Receio de enfrentar a vida cara a cara. Descobri que não me busco ou, se me busco, é sem vontade nenhuma de me achar, mudando o caminho cada vez que percebo uma luz. Fuga, o tempo todo fuga, intercalada por períodos de reconhecimento."

"Quero ser eu mesmo. Será difícil? Com tudo de mau que isso possa trazer. (...) É preciso agora concretizar a idéia: tirá-la dos limites do pensamento, arrancá-la apenas do papel e torná-la um pedaço de mim, decisão cravada no corpo."

Limite branco]

"Bem sei que gostarias. Mas não te colocarão na cruz, querido. Quanta vaidade, quanto palavreado tolo, quanta culpa idiota."

['Dodecaedro', TRIÂNGULO DAS ÁGUAS]

"Que vontade escapista e burra de encontrar noutro olhar que não o meu próprio - tão cansado, tão causado - qualquer coisa vasta e abstrata quanto, digamos assim, um Caminho

"Nós continuávamos resistindo mas às vezes penso que viver não deve ser apenas isso, segurar a barra."


(Dispersos - Caio 3D)

Preciso de você que eu tanto amo e nunca encontrei.
Para continuar vivendo, preciso da parte de mim que não está em mim, mas guardada em você que eu não conheço.
Tenho urgência de ti, meu amor. Para me salvar da lama movediça de mim mesmo. Para me tocar, para me tocar e no toque me salvar. Preciso ter certeza que inventar nosso encontro sempre foi pura intuição, não mera loucura. Ah, imenso amor desconhecido. Para não morrer de sede, preciso de você agora, antes destas palavras todas cairem no abismo dos jornais não lidos ou jogados sem piedade no lixo. Do sonho, do engano, da possível treva e também da luz, do jogo, do embuste: preciso de você para dizer eu te amo outra e outra vez. Como se fosse possível, como se fosse verdade, como se fosse ontem e amanhã.

"Deixara o telefone do bar, o endereço, a hora que estaria ali. Um detalhado roteiro, feito dissesse dissimulado estou esperando, você pode me encontrar. Ah como doía manter-se assim disponível, completamente em branco para a procura."

(Inventário do Ir-remediável » Inventário do Ir-remediável)

"Na minha memória - já tão congestionada - e no meu coração - tão cheio de marcas e poços - você ocupa um dos lugares mais bonitos."

"A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão."

(Lixo e Purpurina

"Plâncton, ele disse, é um bicho que brilha quando faz amor"


[Terça-feira gorda, MORANGOS MOFADOS]

"Mas te investigo, te busco, te suspeito cúmplice de mim, não dele, porque a tua ajuda é a única que posso esperar, então insisto sempre se me entendes, e volto a perguntar então, me entendes? assim, me entendes, tu? agora, me entendes, ou nunca?"

"Meus dias são sempre como uma véspera de partida."

"Nada modificará o estar das coisas no mundo, e a minha partida ontem, hoje ou amanhã, não mudará coisa alguma."



[Eu, tu, ele, MORANGOS MOFADOS] "E nada restava daquelas pessoas. Nem mesmo poeira que o vento soprasse."


[Divagações de uma marquesa, PEDRAS DE CALCUTÁ]

"Como se tivesse com a cabeça inteira dentro d’água e alguém começasse a tocar realejo na beira do rio. Pequenas bolhas de som explodiam sem choque contra seus ouvidos, nota após nota, até formar-se também por dentro aquela melodia tão remota e lenta que parecia vir não mais da margem, mas do fundo."

[Caixinha de música, MORANGOS MOFADOS]

"tento fugir para longe e a cada noite, como uma criança temendo pecados, punições de anjos vingadores com espadas flamejantes, prometo a mim mesmo nunca mais ouvir, nunca mais ter a ti tão mentirosamente próximo."

(Dragões Não Conhecem o Paraíso » À Beira do Mar Aberto)

"Que bom se fôssemos cavalos e corrêssemos por um campo de trigo, com papoulas nas margens."

"Um cego vê mais que um homem comum porque não precisa olhar para fora de si, porque o que ele deseja ver está completamente dentro e é inteiramente seu."

[A chave e a porta, INVENTÁRIO DO IR-REMEDIÁVEL]

"Você sabe que vai ser sempre assim. Que essa queda não é a última. Que muitas vezes você vai cair e hesitar no levantar-se, até uma próxima queda."


[Inventário do ir-remediável, INVENTÁRIO DO IR-REMEDIÁVEL]

"Malas, hotéis. E os amigos, cadê? Você foi lindo comigo. E distante. Me deu apoio, não o ombro. Queria tanto ter chorado a dor enorme de POA e a velhice de meus pais no Menino Deus no ombro de um amigo. Não temos tempo: somos maduros. Onde será que isso começa?"

[Cartas, a Luciano Alabarse]


"no meu demente exercício para pisar no real, finjo que não fantasio. e fantasio, fantasio. até o último momento esperei que você me chamasse pelo telefone. que você fosse ao aeroporto. casablanca, última cena."

[cartas]

"Teria mesmo chegado ao ponto de dizer nutro? Teria, teria sim, teria dito nutro & relacionamento & rompimento & afeto, teria dito também estima & consideração & mais alto apreço e toda essa merda educada que as pessoas costumam dizer para colorir a indiferença quando o coração ficou inteiramente gelado."

em Os Sapatinhos Vermelhos.

"Quero fazer um feitiço para que nada mais volte a andar. Quero ficar assim, no parado. Sei com medo que o que trouxe você aqui foi esse meu jeito de ir vivendo como quem pula poças de lama, sem cair nelas, mas sei que agora esse jeito se despedaça."

Anotações sobre um romance urbano

"Olha, eu estou te escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro, mas eles não me deixam, você não me deixa"

"Carta para além do muro"

Extremos da paixão
... Enlouqueceu mendigando a atenção dele. Certo dia, em Barbados, esbarraram na rua. Ele a olhou. Ela, louca de amor por ele, não o reconheceu. Ele havia deixado de ser ele: transformara-se em símbolo sem face nem corpo da paixão e da loucura dela. Não era mais ele: ela amava alguém que não existia mais, objetivamente. Existia somente dentro dela. Adèle morreu no hospício, escrevendo cartas (a ele: "É para você, para você que eu escrevo" - dizia Ana C.) numa língua que, até hoje, ninguém conseguiu decifrar ...

"Derramei três lágrimas: a primeira escorreu pela face e perdeu-se na bôca; a segunda morreu achatada contra o assoalho; a terceira caiu na tua mão. E foi a que mais doeu".

Mamutes Margarida Madrugada - Inventário do Irremediável

"Nada mais distanciado do que o que está por perto, porque o que está longe se faz compacto numa atitude assumida frente ao que já aconteceu;"

Mamutes Margarida Madrugada - Inventário do Irremediável

"Parece-me agora, tanto tempo depois, que as partidas-dolorosas, as amargas separações, as perdas-irreparáveis costumam lavrar assim o rosto dos que ficam."

[O marinheiro, TRIÂNGULO DAS ÁGUAS]

"Não gosto quando a gente fica falando assim no que não foi, no que poderia ter sido. God! Não aos sábados, principalmente a noite. Não hoje, por favor, hoje não dá, eu tenho. Eu tenho uma sensação meio de amargura, de fracasso. Você me entende? Como se tivesse a obrigação de ter sido, ou tentado ser, outra pessoa."

[Pela noite, TRIÂNGULO DAS ÁGUAS]


"Quando estava meio bêbado assim emergia, vinha à tona, mas não estava limpo, todo melado de emoções informuláveis, saudades impossíveis, tinha vontade de pedir que ficassem com ele, que o colocassem no colo, na cama, que lhe dessem chá ou leite quente e repetissem que tudo ia ficar bem, que amanhã haveria sol, e não teria ressaca nem precisaria trabalhar e todas as dívidas estariam saldadas e receberia todas as cartas, todos os telefonemas que esperava inutilmente havia meses, havia anos, uma vida inteira esperando o que não vinha."

[Pela noite, TRIÂNGULO DAS ÁGUAS]

"As pessoas suportam tudo, as pessoas às vezes procuram exatamente o que será capaz de doer ainda mais fundo, o verso justo, a música perfeita, o filme exato, punhaladas revirando um talho quase fechado, cada palavra, cada acorde, cada cena, até a dor esgotar-se autofágica, consumida em si mesma, transformada em outra coisa que não saberia dizer qual era."


[Pela noite, TRIÂNGULO DAS ÁGUAS]

Às vezes me espanto e me pergunto como pudemos a tal ponto mergulhar naquilo que estava acontecendo, sem a menor tentativa de resistência. Não porque aquilo fosse terrível, ou porque nos marcasse profundamente ou nos dilacerasse - e talvez tenha sido terrível, sim, é possível, talvez tenha nos marcado profundamente ou nos dilacerado - a verdade é que ainda hesito em dar um nome àquilo que ficou, depois de tudo. Porque alguma coisa ficou.


{do outro lado da tarde}

3 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

http://z002.ig.com.br/ig/54/51/110003/blig/robertalexotan/

10:03 AM

 
Blogger Felicidade Clandestina disse...

Lindos fragmentos de Caio.

sem palavras com tudo isso.

7:39 PM

 
Blogger mimimi disse...

Ahhhhhh Caio, é demais!

6:17 PM

 

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