segunda-feira, dezembro 04, 2006

"....Talvez desilusão seja o medo de não pertencer mais a um sistema. ... O que eu era antes, não me era bom. Mas era desse não-bom que eu havia criado um bem futuro... Terei que correr o sagrado risco do acaso. E substituirei o destino pela probabilidade.
Mas enquanto eu estava presa, estava contente? ou havia, e havia, aquela coisa sonsa e inquieta em minha feliz rotina de prisioneira?"


"Um domingo de tarde sozinha em casa dobrei-me em dois para a frente - como em dores de parto - e vi que a menina em mim estava morrendo. Nunca esquecerei esse domingo. Para cicatrizar levou dias. E eis-me aqui. Dura, silenciosa e heróica. Sem menina dentro de mim."


"Eu tenho que ser legível quase no escuro."

"O óbvio é a verdade mais difícil de se enxergar"

Se em um instante se nasce, um instante se morre, um instante as vezes é para vida inteira.


De como entrei
naquilo que existe entre o número
um e o número dois,
de como vi a linha de mistério
e fogo,
e que é linha sub-reptícia.


Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio."
(Clarice Lispector)

"...ah Deus,e que tudo caia
sobre mim,
até a incompreenção de mim mesma
em certos momentos brancos porque
basta me cumprir e então nada
impedirá meu caminho até a
morte-sem-medo,
de qualquer luta ou
descanso me levantarei
forte e
bela como um cavalo novo."
(Clarice Lispector)

Terei toda aparência de quem falhou, e só eu saberei se foi a falha necessária.

"Não me posso resumir porque não se pode somar uma cadeira e duas maçãs.
Eu sou uma cadeira e duas maçãs. E não me somo."


"Não sei qual é a minha culpa, mas peço perdão.
- A luz do farol revelou-os tão rapidamente
que não se puderam ver.
Peço perdão por não ser uma "estrela" ou o "mar",
ou por não ser alegre, mas coisa que se dá.
Peço perdão por não saber me dar nem a mim mesma.
Para me dar desse modo eu perderia
a minha vida se fosse preciso
- mas peço de novo perdão,...
Não sei perder minha vida."

"Dá-me a tua mão:
Vou agora te contar
como entrei no inexpressivo
que sempre foi a minha busca cega e secreta.


De como entrei
naquilo que existe entre o número um e o número dois,
de como vi a linha de mistério e fogo,
e que é linha sub-reptícia.


Entre duas notas de música existe uma nota,
entre dois fatos existe um fato,
entre dois grãos de areia por mais juntos que estejam
existe um intervalo de espaço,
existe um sentir que é entre o sentir
- nos interstícios da matéria primordial
está a linha de mistério e fogo
que é a respiração do mundo,
e a respiração contínua do mundo
é aquilo que ouvimos
e chamamos de silêncio."

"Não é que vivo em eterna
mutação,
com novas adaptações a
meu renovado viver e
nunca chego ao fim de cada
um dos modos de existir.
Vivo de esboços não
acabados e vacilantes.
Mas equilibro-me como posso,
entre mim e eu,
entre mim e os homens,
entre mim e o Deus."


"Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas
do que é passível de fazer sentido.
Eu não:
Quero é uma verdade inventada."

"..... Eles pareciam saber que o Amor
era grande demais e que um não
podia viver sem o outro.
Por um instante, como se tivessem
combinado, ele beijou sua mão,
humanizando-se. Pois havia o
perigo de, por assim dizer,
morrer de Amor......"

" Tive, sim, tive ainda o desejo de me refugiar
na minha própria fragilidade e no argumento
astucioso, embora verdadeiro, de que meus
ombros eram os de uma mulher, fracos e finos.
Sempre que eu havia precisado, eu me escusara
com o argumento de ser mulher."

Escrevo por não ter nada a fazer no mundo:
sobrei e não há lugar para mim na terra dos homens.
Escrevo porque sou um desesperado e estou cansado,
não suporto mais a rotina de me ser e se não fosse
a sempre novidade que é escrever, eu morreria
simbolicamente todos os dias.
Mas preparado estou para sair discretamente pela
porta dos fundos. Experimentei quase tudo,
inclusive a paixão e o seu desespero.
E agora só quereria ter o que eu tivesse sido e não fui."


"Eu antes tinha querido
ser os outros para conhecer
o que eu não era.
Entendi então que eu já
tinha sido os outros
e isso era fácil.
Minha experiência maior
seria ser o outro dos outros:
e o outro dos outros era eu!"
(Clarice Lispector}

..."E, quando notou que aceitava em pleno o amor,
sua alegria foi tão grande
que o coração lhe batia por todo o corpo,
parecia-lhe que mil corações
batiam-lhe nas profundezas de sua pessoa.
Um direito-de-ser tomou-a,
como se ela tivesse acabado de chorar
ao nascer."

" Eu escrevo para fazer existir
e para existir-me.
Desde criança procuro o sopro
da palavra que dá vida aos sussurros."

"...E porque minha alma é tão ilimitada
que já não é eu, e porque ela está tão
além de mim - é que sempre sou remota a
mim mesma, sou-me inalcançável, como me
é inalcançável um astro. Eu me contorço
para conseguir alcançar o tempo atual que
me rodeia, mas continuo remota em relação
a este mesmo instante. O futuro, ai de mim,
me é mais próximo que o instante já....."


...."No obscuro erotismo de vida cheia
nodosas raízes.
Missa negra, feiticeiros.
Na proximidade de fontes,
lagos e cachoeiras
braços e pernas e olhos,
todos mortos se misturam e clamam por vida.
Sinto a falta dele
Que medo alegre,
o de te esperar."

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