domingo, outubro 08, 2006

O rapaz mais trsite do mundo - CFA

Toda a vez é a mesma coisa, as cinco da tarde de toda sexta feira eu sento aqui, neste mesmo banco.
Neste mesmo bar, sou atendido pelo mesmo garçom.
Que me chama pelo nome.
Todas as sextas as cinco da tarde é um ritual.
Estou sempre com a barra da calça rasgada. Mania de andar pisando no jeans!
O tênis é o mesmo e a mesma jaqueta surrada.
Descanso a mochila no chão do meu lado esquerdo, enquanto a cerveja não chega.
Gelada desce aliviando as dores do dia, da semana, as noites de frio que queimam, de calor que cortam.
Na verdade tenho um segredo.
Venho aqui por causa dele.
O menino de sandálias de couro.
Lembro-me que era uma tarde chuvosa. Entrei no bar para me esconder da chuva para me aquecer e o avistei no balcão.
Cabelos despenteados, barba de dias por fazer, olhos tão cansados. E aquelas mãos, Meu Deus...Dedos enfraquecidos de tanto digitar, de tanto tentar contar uma história.
Que convença que o faça fazer parte.
Era o rapaz mais triste do mundo
Comprou um vinho embrulhou num papel pardo e saiu na chuva correndo atravessando a rua.
Aquele menino...
Nem sequer me viu.
Tomei alguma coisa que não me lembro bem o que era, sei que desceu ardendo, ferindo minha garganta.
Fui embora, assim assim... Vazio.
E voltei na semana seguinte e na outra e na outra e na outra.
Sempre com a mesma roupa, a mesma mochila, no mesmo horário.
Quem sabe assim talvez ele me reconhecesse?
A verdade é que ele nunca mais voltou.
Minha barba cresceu, meus cabelos também, há dias não me alimento direito, fumando demais, chorando demais, cansado demais. De tanta solidão.
Fico então aqui.
Sentado sozinho
Bebo demais noite adentro. Volto pra casa já tarde demais para um cigarro, para um beijo ou um afago.
E espero a próxima semana, a próxima sexta feira, o fim do dia
Espero o menino que nunca mais voltou!

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